SITE EM CONSTRUÇÃO... SEJA UM COLUNISTA.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

História

 Praça da Bandeira e Rua Marechal Deodoro - 1957(IBGE)

Contexto

Para manter a hegemonia da coroa portuguesa sobre a terra recém descoberta e inibir a invasão e saque dos corsários franceses, ingleses e holandeses na costa brasileira, o então rei de Portugal D. João III  dividiu a "terra brasilis" em capitanias hereditárias, as quais doou  para nobres e pessoas de sua confiança. Assim Portugal pretendia administrar a colônia que certamente lhe renderia muitas riquezas e crescimento econômico. O ano era 1534.

A Bahia nesta época foi  composta por três faixas de terra, contadas da sua costa até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, a saber: a Capitania da Baía de Todos os Santos (ao norte), a Capitania dos Ilhéus (no centro) e a Capitania de Porto Seguro (ao sul).

Clique na imagem para ampliar
A Capitania dos Ilhéus tinha 50 léguas de largura e correspondia ao trecho que vai do Rio Jaguaripe à barra do Rio Coxim. Hoje significa aproximadamente de Itaparica à Comandatuba (BA). Sendo que anos depois Itaparica também virou Capitania.

O seu primeiro donatário foi Jorge de Figueiredo Correia que era Escrivão da Fazenda Real e um dos homens mais rico de Portugal na época. Ele recebeu a capitania em  26 de junho de 1534 e, apesar da sua disposição em investir na colonização da capitania, preferiu ficar no conforto do cargo e da corte, enviando um funcionário seu para administrá-la  em seu lugar: o Lugar-Tenente Francisco Romero. Homem hábil na guerra, apesar de rude no trato.

Em outubro de 1535 Francisco Romero partiu de Lisboa e atracou na Baía de Todos os Santos, provavelmente no mês de dezembro. Depois seguiu viagem com seus colonos e três naus até a Ilha de Tinharé (Morro de São Paulo), onde se instalou por um tempo. 

Apesar da segurança do local, Francisco enviou um destacamento para explorar melhor  a região. E, após algumas semanas de exploração, o grupo trouxe a boa notícia de que encontrara uma península protegida por quatro ilhéus, com um rio que desaguava no Oceano Atlântico, bom atracadouro, terras férteis, sendo o lugar ideal para a sede da capitania. O único aspecto preocupante era a presença da tribo dos Aimorés por aquelas bandas, pois estes eram temidos até pelas outras tribos existentes, além de avessos à colonização. Este lugar era Ilhéus. 

A primeira pintura que retratou a vila dos Ilhéus - do principe Maximiliano D’Áustria

Construíram então uma das primeiras vilas do Brasil e Francisco Romero a batizou de São Jorge dos Ilhéus, em homenagem ao seu patrão.

No ano seguinte a prosperidade era tanta que Francisco enviou uma nau cheia de pau-brasil para seu donatário com uma carta informando que a vila estava instalada, fortificada, incluindo até uma pequena capela. 

Feliz pelas notícias Jorge de Figueiredo Correia distribuiu três sesmarias (distribuição de lotes de terra destinada à produção) em sua capitania. Uma para Mem de Sá (Desembargador), uma para Fernão Alvares de Andrade (Tesoureiro-mor) e outra para Lucas Giraldes (rico banqueiro).

Com visão capitalista eles pretendiam explorar a lavoura canavieira pelo interior daquelas terras. E, justamente aí começaram seus problemas. Os índios Aimorés, que eram em grande número,  não concordaram com seus planos; visto que suas terras agora começaram a ser exploradas.



E, a partir da segunda metade do ano de 1546, constantes batalhas foram travadas. Os temidos Aimorés (ou botocudos, como eram chamados) "devastaram Ilhéus e Porto Seguro, destruindo os engenhos e matando os colonos portugueses, que logo fugiram em debandada para as ilhas de Tinharé, Boipeba e Cairu, além de outras localidades"¹. 

A guerra ainda prosseguia quando, ao fim do ano 1550, Jorge de Figueiredo Correia faleceu e seu filho vendeu o direito sobre a capitania para o banqueiro Lucas Giraldes que de imediato substituiu o Lugar-tenente Francisco Romero pelo Feitor italiano Tomaso Alegre.

Apesar dos esforços dos colonos em toda parte, o sistema de capitania fracassou - à exceção de São Vicente e Pernambuco - e a coroa portuguesa decidiu criar o Governo Geral, onde pretendia centralizar a administração e ter mais controle sobre a colônia. As capitanias passaram a chamar-se então capitanias gerais.

Chegada de Tomé de Souza à Bahia

Quando Tomé de Souza veio assumir o Primeiro Governo Geral do Brasil, os primeiros padres da Companhia de Jesus vieram junto com ele, sob as ordens de Manuel da Nóbrega. Era 29 março de 1549. 

E, enquanto a Coroa acreditava que conseguiria resolver o  seu problema econômico, ampliando a produção do cobiçado açúcar e unificando a colônia através da fé, os jesuítas sonhavam em realmente converter os indígenas à Cristo e preservar a hegemonia da Igreja Católica na terra onde os cristãos protestantes (luteranos e calvinistas) já tinham chegado. "A guerra econômica e religiosa das Europas transferiu-se para o Brasil"². 

                          

                 Porto velho : mercado municipal - 1957 (IBGE)


                                          
Fundação

Em 8 de maio de 1553 Duarte Costa veio tomar posse como segundo Governador-Geral e trouxe consigo a terceira leva de missionários. Foram eles: os padres Brás Lourenço e Ambrósio Pires e os  irmãos Gregório Serrão, João Gonçalves, Antonio Blasquez e José de Anchieta; todos sob a supervisão do padre Luís da Grã. Eles aportaram na Bahia em 13 de julho de 1553.  
Fragmento das "Cartas Avulsas" dos jesuítas.

Em 1555 Nóbrega foi nomeado Provincial do Brasil e o Pe. Luis da Grã partiu para S. Vicente com o Irmão Manoel de Chaves.

Em dezembro de 1559 Grã foi promovido a Provincial da Companhia de Jesus na colônia em lugar do próprio Nóbrega, que estava bastante doente. E em 1560 retornou à Bahia com irmãos línguas Gonçalo de Oliveira, Gaspar Lourenço e Antônio de Souza, e os noviços Balthazar Gonçalves, Antônio de Mello e Pero Peneda, juntamente com o então Governador Geral Men de Sá. Chegou em 29 de agosto e em outubro começou a visitar e fundar aldeias.

Fragmento de carta de Pe. Anchieta

"Luís da Grã fundou vários povoados e aldeias no seu provincialado, das quais podemos destacar a de São Miguel de Taperaguá, fundada em 1561, a de Nossa Senhora da Assunção de Tapepigtangia, também fundada em 1561, a aldeia de Bom Jesus de Tatuapara, a de São Pedro de Saboig e a de nossa senhora de Camamu, iniciada já, em 1561, pelo padre, a pedido do índio cristão, Luiz Henriques, de Ilhéus." (4)
 
Tendo boas relações com o Governador, de família nobre, formado em direito, em artes e sendo ex-reitor do Colégio de Coimbra em Portugal, Pe. Luís da Grã se mostrou um missionário dedicado, excelente pregador, talentoso no trato com as pessoas e muito zeloso pela conversão dos indígenas³. Além de fortalecer a fé dos que aqui já estavam, era considerado "tão doce e prudente  para  todo o bem" por Manuel da Nóbrega, em sua carta ao Rei, em 30 de julho de 1559.

Segundo Anchieta, Grã era um trabalhador incansável e contínuo na busca da salvação das almas, repartia o pão com os famintos e mostrava-se muito satisfeito e alegre ao ensinar aos gentios, e mesmo que pregasse a dois ou três demonstrava entusiasmo “como se estivesse com a igreja cheia”. (5)

Grã também foi responsável pelos processos inquisitoriais instaurados no Brasil. Desde o mais famoso contra o francês João Cointas, monsenhor de Bolés, o do padre Antônio da Gouveia e também contra outras pessoas, na ocasião da Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil.

A partir de finais do século XVI e inícios do XVII, Luís da Grã viveu quase exclusivamente na capitania de Pernambuco, atuando como reitor do colégio da Companhia e envolvido em outras atividades. No ano de 1600, este clérigo aparecia como confessor da Igreja e domiciliar. Acabou os seus dias nesta capitania a 16 de novembro de 1609*. Tinha 86 anos de idade . (6) 

Vista parcial de Taperoá, em 2009.

Taperoá portanto foi fundada pelo II Provincial Pe. Luís da Grã, em 23 de novembro de 1561, sendo a princípio a Aldeia de Taperaguá, onde viviam cerca de 2000 indígenas. Estes receberam Luís da Grã com docilidade e grande parte se converteu ao cristianismo católico. O qual construiu uma capela à S. Miguel, no local onde hoje é a Muritiba. Luís da Grã tinha na época 38 anos. (7)

Ainda segundo o relato do Padre José de Anchieta, em 1562 "uma grande doença e grande fome" dizimou 30 mil índios e escravos no espaço de 2 ou 3 meses. E também a notícia de que as Aldeias de Taperaguá, Tapepigtanga e Itaparica seriam alvos da represália do Governador Geral em resposta ao assassinato do Bispo Pero Sardinha, afetou gravemente o processo de colonização de nossa cidade.

Anchieta afirma, que no caso destas Aldeias, era mentira que "um mameluco conseguiu meter na cabeça do gentio Taperaguá". A História mostra, no entanto, que outras localidades foram realmente punidas pelo ataque ao Bispo Sardinha  e sua comitiva. (Os caetés que o digam!).
Fato é que nossos antepassados creram e fugiram, despovoando estas bandas e fechando as igrejas aqui instaladas. (Ver no fragmento abaixo)


"A Resolução nº 284 de 29 de maio de 1847, elevou a povoação à categoria de vila e criou-se o município de Taperoá. (...)  A vila de Taperoá recebeu foros de cidade pela Lei estadual nº. 1131 de 01 de abril de 1916. (8)

Pesquisa e redação: Profª. Bárbara Guedes 


Para conhecer mais sobre Luís da Grã clique aqui 
Sobre os jesuítas no Brasil Colônia clique  aqui
Sobre os cristãos protestantes no Brasil Colônia clique aqui 

__________________________________
FONTES:

(1) Portal São Francisco:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/capitanias-hereditarias/costa-do-pau-brasil.php
(2) Eduardo Hoonaert (org.) História da Igreja no Brasil na Primeira época, Petrópolis RJ, Ed. Paulinas-Vozes, Tomo II/1983
(3) CONQUISTA ESPIRITUAL: HISTÓRIA DA EVANGELIZACÃO NA PROVINCIA GUAIRĀ, p. 118, na obra de Antônio Ruiz de Montoya - 1565-1652 (de Portugal) -  Por Jurandir Coronado Aguilar
(4) Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil:  Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1950, p. 158 
(5) Cartas de Anchieta, p. 105
(6) O padre Luís da Gram e a Inquisição no Brasil Colonial Quinhentista, Emanuel Luiz Souza e Silva - Revista de História da UFBA, 4, 1 (2012), p. 3-31  
(7) Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, t. II, p. 475.
(8) Taperoá: Minha Terra, Minha Gente e sua Política, p. 14,15, na obra de Osmar Pinheiro - 1998, Contemp Editora, Salvador BA
- Universidade de Coimbra, Portugal  -  Contato pessoal
* Existe uma outra data para o falecimento de Luis da Grã (em Tratados da Terra e Gente do Brasil, P.401, de Fernão Cardim, em Brasiliana Digital.)
PS: FRAGMENTOS DAS CARTAS DE JOSÉ DE ANCHIETA E DAS CARTAS AVULSAS DOS JESUÍTAS